AlmArdente

De tudo se fala do que possa habitar uma qualquer alma humana. Os amores e desamores, as artes e os vícios, os prazeres e as dores. Intensas banalidades, para miúdos e graúdos.

quarta-feira, junho 15, 2005

O Fim

- Era uma noite fresca de fim de Junho. Ele foi buscá-la a casa como fazia quase todos os dias desde que namoravam, desde há um ano. Saíram a pé para a volta habitual, para namorarem junto ao rio. Pelo caminho a conversa não fluíu e ele começou a sentir algum desconforto naquele silêncio, como se o vazio de palavras lhe dissesse mais do que as próprias palavras. Chegaram ao miradouro e sentaram-se. Como um discurso ensaiado, ela esvaziou-se do que carregava para contar. Ele encaixou aquele murro com um estômago de ferro, aguentou sem vacilar enquanto lhe era dito que estava tudo acabado, que já não havia amor, que ela já não gostava dele. Depois veio a interrogação em tom de revolta, ainda ali, ainda a quente. "Porquê? " "Porque sim, porque estas coisas acontecem, porque não sou feliz contigo." "Há outro? " "Não, não há outro". Mas havia.

- Foram jantar fora. Depois de muito escolher o restaurante (porque ela nunca gostava de nenhum), lá se sentaram para comer. O ambiente estava gélido e ele teve um daqueles pressentimentos de que algo de grave estava para acontecer. Pensou para si "É melhor ir directo ao assunto" e disse: "Que se passa?" "Quero acabar. A nossa relação anda muito estranha e eu não consigo continuar. Mereces alguém que te faça feliz e eu também. Neste momento não sou feliz nem te consigo fazer feliz." Ele soltou um "Outra vez?" porque não era a primeira vez que ouvia aquela conversa. Mas foi a última.

3ª - Estavam no carro à porta da casa dela. Em silêncio. Ela tinha a cabeça no colo dele e os seus dedos entrelaçados nos dele. Levantou-se e olhou-o nos olhos "Não sou capaz de continuar a namorar contigo. Não me consigo entregar, não sinto nada por ti. Eras tudo o que eu queria, és um óptimo namorado e sinto um grande desgosto por não te poder dar tudo o que me dás. Tenho pena mas não dá. Adeus." Saíu do carro e da sua vida, deixando-lhe os sentimentos em turbilhão, desordenados. Até hoje.

Assim terminaram as três últimas relações ditas "sérias" deste personagem.
Em relação à primeira, há muitos, muitos anos, a coisa passou definitivamente. Coisas de adolescentes. Embora ninguém goste da dor de corno, é pessoa que já esqueceu. E se se lembrar dela, é com uma ponta de raiva e um odiozinho de estimação. Nada de boas recordações nem nostalgias bonitas.
Em relação à terceira, ela entrou na vida dele como um furacão, ateou labaredas de paixão intensa, incendiou-lhe o corpo e a alma, foi o seu mais louco devaneio. Da mesma forma que apareceu, desapareceu. Até hoje, foi a relação mais curta e mais intensa. As coisas ainda estão frescas e embora ele saiba que ela não é mulher para o mundo dele, um olhar dela desencadeia automaticamente um fogo nele com consequências imprevisíveis.
Sobre a segunda, há a dizer o seguinte: foi sem dúvida a mulher da sua vida. Passaram anos lado a lado, viveram alegrias e tristezas, viajaram, fizeram planos, desenharam sonhos... que não se concretizaram. Agora, olhando para trás, é com grande mágoa que ele a vê longe de si, numa vida que não é dele, depois de tudo o que foram um para o outro, depois de tudo o que fizeram. "Será alguma vez tarde de mais numa vida inteira? Ou haverá oportunidades futuras para casos falhados? " Soubesse ele a resposta a esta questão, e dormiria muito mais descansado...


Conclusão: a vida não pára, as pessoas vão e vêm, as relações começam e acabam. Até que ponto deveremos ficar presos a alguém? Presos a recordações? Presos à vontade de reatar? Soubessemos todos o que fazer, e o mundo teria muito mais gente sã...

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