AlmArdente

De tudo se fala do que possa habitar uma qualquer alma humana. Os amores e desamores, as artes e os vícios, os prazeres e as dores. Intensas banalidades, para miúdos e graúdos.

sábado, junho 25, 2005

A angústia do talvez

" ...porque embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu "
Luís Fernando Veríssimo

Vem esta frase lavrada num texto que fala dos "quase" e dos "talvez" e imediatamente me tocaram todas as campaínhas ao lê-lo. Eis um assunto deveras consumidor da alma humana: o Talvez.
"Talvez te ame um dia", "Talvez haja hipótese".
"Talvez ouse um dia", "Talvez venha a ser diferente"
Talvez, talvez, talvez...
Não há pior angústia do que a incerteza do talvez.
Pior que a convicção do Não, é a desilusão do Talvez, essa morte anunciada que nos leva a acreditar, que nos dá esperanças enganadoras a que nos agarramos com todas as forças.
O Talvez incomoda e entristece. Queima e consome sem dó de quem sofre por uma resposta, por um claro e forte Sim ou Não.
Quem se refugia no Talvez, passa a vida a Quase chegar a algo.
Quase ganha, Quase passa. Quase ama, Quase faz.
A vida quer ser agarrada com convicção, com a alma em chamas, com paixão!
Não com dúbios e distantes "talvez".
Quem vive pendurado num Talvez, mortifica todos os segundos da sua existência aguardando febrilmente um gesto, uma palavra, que o libertem do torpor emocional.
Espera, impaciente e alheio ao mundo. Desespera num fogo solitário.
O Talvez só é cómodo para quem o profere, na segurança de ter garantida a expectativa da outra pessoa. O Talvez é egoísta e injusto, obriga a uma entrega cega e irracional e não dá campo de manobra. Manieta e amputa, tolda-nos o pensamento, obriga a estar quieto e incapacitado.
O Talvez é, provavelmente, a maior arma de destruição emocional e o maior destruidor de confiança que se pode arremessar a alguém que sufoca no vazio das nossas decisões.
Por isso, um conselho a quem está pendurado em "Talvezes":
" Vou fazer por mim sem esperar por ti".
Demasiado duro? Ou simplesmente saudável?