AlmArdente

De tudo se fala do que possa habitar uma qualquer alma humana. Os amores e desamores, as artes e os vícios, os prazeres e as dores. Intensas banalidades, para miúdos e graúdos.

domingo, junho 19, 2005

...isto é complicado!...

Quantas vezes, quantos de nós, mais ou menos românticos, mais ou menos desprendidos, mais ou menos conservadores, mais ou menos dados a flirts e aventuras, quantas vezes não nos enganámos já em relação às nossas paixões por alguém?

Quantas vezes não nos atirámos de cabeça para uma relação nova cheios de fogosidade, cheios de paixão, cheios de vontade de consumar de corpo e alma todos os desejos que carregamos de entrega e recompensa, para depois a chama se apagar e tudo não ter passado afinal de um equívoco?

Ou não será equívoco? Serão as paixões um assunto sério na medida em que mexem com os sentimentos dos outros ou isso da paixão é uma coisa leve e passageira, para usar e abusar sem importarem as consequências?

Há os mais sonhadores, os mais sofredores e quixotescos que anseiam pela alma gémea, por alguém a quem se darão sem reservas e confiantes num futuro sem sobressaltos, envelhecendo lado a lado com a pessoa que amam. Por norma não são de flirts. Encaram cada nova paixão como a definitiva, como a derradeira e eterna e sempre bela paixão, a que estava ali à espera ao virar a esquina do destino. Prendem-se, agarram-se ao que têm com unhas e dentes, fazem tudo para que dê, para que resulte, mesmo quando tudo indicia que não vai resultar. Mesmo quando se torna patético de tão óbvio que é a incompatibilidade. E sofrem na alma de cada vez que o idílio termina, de cada vez que a paixão se esgota e que são deixados de coração destroçado e sentimentos varridos por vendavais emocionais. E moem e remoem dias a fio, semanas, meses, sem que compreendam os porquês, sem força anímica para saírem das nostalgias e para sacudirem de vez as últimas poeiras amargas. São verdadeiros "lipushkas".

Mas há quem seja desprendido, desempoeirado e aventureiro, sem medo de arriscar, sem a pieguice de quem acredita que a paixão é eterna. E por isso pulam de romance em romance sem problemas. Por isso não ficam atolados no pântano sentimental de cada vez que terminam uma relação, por isso não sufocam em mágoas e arrependimentos e seguem pela vida com a mesma confiança de sempre e sem âncoras presas em águas passadas. Serão por isso gente leviana? Serão egoístas a ponto de só lhes interessar a satisfação dos próprios desejos? Ou será essa a filosofia mais prática e correcta para manter uma boa sanidade mental?

O tema não se esgota e não é regido por dogmas nem por leis científicas. As paixões são pessoais e transmissíveis (ou não) e cada um vive-as à sua maneira. A razão de tanta tinta correr sobre este assunto (directamente proporcional aos litros de lágrimas que correm por esse mundo fora causadas por desgostos de amor), tem a ver com a própria matéria de que é feita a alma humana, uma amálgama de entusiasmos e emoções, contraditoriamente coerentes, inconstantemente estáveis, lúcidamente baralhadas, tudo envolto numa neblina de massa cinzenta pensadora, conscientemente mergulhada no subconsciente. É assim uma almardente.

Aqui este diab' alma está numa fase de estudo profundo sobre as paixões. Após horas de trabalho laboratorial intenso, submetendo-me como cobaia às mais variadas e rocambolescas experiências, passando pelos mais variados estados de espírito com afectação do sistema psico-motor e sem estarem totalmente identificados os efeitos secundários, não há conclusões(...isto é complicado!...). Mas há aprendizagem.

p.s. - a palavra "lipushka" é apenas compreensível para os verdadeiramente conhecedores da língua russa :)

1 Comments:

  • At 2:55 da tarde, Blogger panamá said…

    É mesmo assim, o ser humano, uma grande confusão! Especialmente por causa da sua capacidade reflexiva! muitas vezes tudo se torna mais tranquilo quando não somos tão dados a reflexões. Na minha singela, mas muito minha opinião, paixão é paixão sempre que se sentem "borboletinhas a bater as asas no estômago"!
    Podem-se ter imensas, intensas, várias ao mesmo tempo. Podemos sofrer ou deixar, simplesmente de sentir paixão. Sim, porque não temos necessariamente que sofrer, apenas porque fomos deixados. Podemos deixar e, sofrer com isso!E a vida vai-se levando, com toda a certezinha! O que interessa é vivermos sempre, sempre intensamente! É isso que levamos de cá, não será?
    beijos, jóia!

     

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