Há muitos anos atrás, junto aos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, havia um muro em que se estendia uma frase que ficou na memória de todos os que por lá passavam:
UMA PANCADA NOS OLHOS FAZ VER
As palavras desapareceram com o tempo. Penso até que o próprio muro foi deitado abaixo. Mas a mensagem ficou.
Há pouco tempo, uma pessoa fez este boneco. Fê-lo com o sentimento de puro entendimento das palavras que nele constam, com a consciência de estar a ver coisas, agora, que não teria visto se não tivésse levado a pancada. Senti revolta. Senti pena dele. Senti uma raiva crescente e um ódio de morte a quem bate assim em quem não merece. Porque esta pessoa, o artista que fez o boneco, não merecia.
Sou de sangue quente, de explosividade emotiva e fulgurante. E quando presencio injustiças, quando sei de vilanias, fervilho de impaciência, clamando por justiça célere e feroz. Implacável.
Mas os ódios e as paixões assomam-se-me à alma com a volatilidade dum fósforo. Por isso depressa me passou a esgana. Serenei. Fiz por compreender as coisas e não quero já armar-me em justiceiro defensor dos fracos. Mas fiquei também a saber que as pancadas da vida, mesmo as mais fortes, aparecem por vezes de onde nunca esperaríamos. Por isso fazem ver. Custa, mas servem de lição. Ensinam a não confiar cegamente, ensinam a manter a margem de segurança necessária, para que não haja surpresas desagradáveis.
Espero que esta pessoa, que conheço como sendo das mais frontais e honestas, que se preocupa com os amigos e faz por ser correcta, ultrapasse depressa o incómodo da situação e dê a volta por cima. E em caso de necessidade beligerante, estarei a seu lado contra o que for preciso e em qualquer altura.
Ser amigo é assim.
4 Comments:
At 9:06 da tarde, Anónimo said…
Percebo perfeitamente, mas é o próprio, quem leva a pancada, que tem de abrir os olhos. Não podem ser os outros a ver por ele.
At 11:19 da manhã, Anónimo said…
O pior é que para pessoas como tu "...de sangue quente, de explosividade emotiva e fulgurante", sempre, quase sempre, a cegueira volta outra vez, e outra vez, e outra vez... porque: "...os ódios e as paixões assomam-se à alma com a volatilidade de um fósforo", ingenuidade ou estupidez? não sei!
de qualquer forma é bom ter amigos que se revoltam por nós... bj
At 11:56 da tarde, panamá said…
Ai, dio! Mas que introspectivos que andamos! Percebo bem o que sentes, minha jóia! Um misto de revolta pela injustiça mas, e acima de tudo, impotência! Contudo, penso que a vida é uma jóinha e, ela própria, com a riqueza das experiências que nela se vivem e desbundam...mostrará que tudo passa! Tudo o que pode ter uma dimensão desmesurada, passará, com toda a certeza, a perder o impacto e o significado! A vida é mesmo bela, estou em crer! E agora, coisas boas,pleaseeee! Beijos bons:)
At 10:36 da manhã, Miguel Camões said…
SuDu:
Ingenuidade ou estupidez? Na verdade, talvez um pouco de ambas. Alguma ingenuidade leva-me a precipitações de avaliação - o que é uma estupidez!
É verdade que os meus primeiros impulsos são de paixão exacerbada. Por isso prefiro sempre esfriar e agir com racionalidade. Assim, acabo por não fazer nenhuma estupidez e troco a ingenuidade por conhecimento, fruto de observação e reflexão.
Quanto à defesa dos amigos, SEMPRE!
Panamá:
Introspecção, injustiças, revoltas, riqueza de experiências... Sim, tudo isso faz uma vida tal como ela é: bela!
E tudo passa, desde que todas as coisas ocupem o devido lugar na Ordem Universal das Coisas :)
E se há coisa que vou mantendo, é o discernimento para avaliar os dois lados da questão e encaixar todas as coisas no seu lugar.
A vida é como um tetris: as cores podem mesclar, desde que tudo encaixe na perfeição ;)
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