AlmArdente

De tudo se fala do que possa habitar uma qualquer alma humana. Os amores e desamores, as artes e os vícios, os prazeres e as dores. Intensas banalidades, para miúdos e graúdos.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Outono


O Outono é a estação dos dourados. Dos castanhos reluzentes e melados, que se agarram às mais diversas sensações melancólicas e bucólicas que nos atravessam a alma.
Adoro o Outono e considero-o insubstituivel. É aquela altura do ano que nos faz pensar, mais do que sentir, o que se passa connosco. A luz própria que adensa e molda as cores, dando-lhes vida própria, o cheiro das castanhas assadas à mistura com aquela brisa fresca e a terra molhada das primeiras águas, o Sol do entardecer tão baço e molarengo, como se o dia não tivesse pressa; como se a vida não tivesse pressa. E não tem. No Outono, a vida não tem pressa. Ou não deveria ter. É tempo de parar e pensar. Pensar no passado recente, no que se fez e não fez; no que se deveria ter feito e no que se fez de errado. É tempo de pensar no que se quer fazer. Tempo de planos epopeicos, de tarefas impossíveis. É tempo de sonhar, de divagar. É tempo de aconchego e calor humano, de encontros e partilhas. Tempo de sermos mais nós mesmos e deixarmos a velha pele esquecida sobre as folhas que caem. O Outono é a altura própria das catarses, da terapia do auto-exorcismo. Tempo de espantar fantasmas e ficar de bem com a vida. Se não fosse o Outono, o ciclo da vida seria aberrantemente disfuncional, colando-se o calor e as cores do Verão, ao frio e ao silêncio das noites de Inverno. O comércio tenta isso mesmo, o despertar do espírito natalício mal apareçam as primeiras chuvas. De profundo mau gosto. Compreende-se que se queira vender, mas a patetada é por demais ridícula.
Sabe tão bem este calorzinho outonal, a paisagem amarelada, a pardalada barulhenta que invade as árvores em todos os fins de tarde... E sabe bem fazer planos, pensar na vida. Desistir do que não vale a pena e partir com vontade para novas empresas. Tal como sabe bem recordar, ter memórias nostálgicas, ficar de brilho nos olhos e de sorriso nos lábios com sentimentos e imagens que nos perspassam o espírito.
O Outono é como um grande album de fotografias. Olhamos para trás e analisamos, apreciamos, enquanto imaginamos o que vem para a frente.
Só me falta mesmo ir à rua comer umas castanhas e apreciar esta paisagem de Outono rural. Quanto à reflexão, há muito que a venho fazendo...

Pintura de Van Gogh. Fotografia de Raphael.

5 Comments:

  • At 7:03 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    a minha estação preferida... afinal inspiração

     
  • At 12:56 da tarde, Blogger panamá said…

    ai...minha jóia, com estas palavras, até eu fiquei fã do espírito outonal! Tens muita razão quando dizes que é já tempo de reflexão. O outono tem, efectivamente, essa mística de fazer organizar o passado e ficar ansiosíssimos pelo futuro que nos é reservado!beijos bons e cheios de tons terra

     
  • At 12:56 da tarde, Blogger CopofoniaDodecafonica said…

    Adoro o Outono e concordo com tudo o que dizes.

    Apenas tenho vontade de acrescentar que o Outono é a altura do ano em que os finais de tarde são especiais. É quando mais me apetece enroscar-me numa manta, com um bom copo de vinho na mão, ouvindo jazz, enquanto lá fora a chuva cai incessantemente ou o sol despede-se em tons alaranjados, quiçá promentendo, voltar no dia seguinte.

    Beijos ensolarados, envoltos em folhas caídas

     
  • At 6:34 da tarde, Blogger Miguel Camões said…

    Afinal, ainda há quem goste do Outono ;)
    Gozem-no, é o que vos digo.

     
  • At 2:35 da tarde, Blogger j.c.pereira said…

    já há de novo espargos http://photos1.blogger.com/x/blogger/3808/717/1024/19852/DSC_0030.jpg

     

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