AlmArdente

De tudo se fala do que possa habitar uma qualquer alma humana. Os amores e desamores, as artes e os vícios, os prazeres e as dores. Intensas banalidades, para miúdos e graúdos.

quarta-feira, maio 10, 2006

A minha é maior que a tua

Dois amigos encontram-se na rua. Vestem calções.

- Então, estás fixe ou quê?
- Tudo bem. E contigo?
- Baril. Estou a ver que tens uma coisa igual à minha. E bem grande...
- Pois. Sabe-me bem andar de calções, com ela de fora a apanhar ar.
- Mas o sol não lhe faz bem. Olha a minha. Apanhou muito sol, ficou negra e feia.
- Pois é. E vejo que a tua é mais comprida. E mais grossa. A minha é mais pequena.
- Pois, estou a ver. Mas a tua está bem direitinha e a minha entorta para a esquerda.
- Isto vai tudo dar ao mesmo...
- E faz-te impressão tocar nela?
- Mais ou menos. A ti faz?
- Quando sou eu, não. Mas não gosto que os outros lhe mexam.
- Pois é, é estranho.
- Bem, gostei de te ver.
- Igualmente. E não te esqueças de fazer os exercícios, ou nunca mais lhe dás uso!

Conversa de dois amigos que sofreram uma ligamentoplastia ao joelho, acerca das respectivas cicatrizes.

quinta-feira, maio 04, 2006

Inspirações

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Há alturas em que as palavras não saem, o sentimento não flui, as ideias são banais e nada de novo vem ao mundo.
Em conversa com uma pessoa amiga, constatou-se isso, que há mais inspiração nos momentos menos felizes. É maior o sentir nas alturas em que estamos soturnos, melancólicos, introspectivos e tristes. Será?
Acontecerá isso a todos os que escrevem? Acontecerá isso a toda a gente?
Adoro escrever. Desde criança que me entretenho com palavras, escrevinhando contos, pensamentos, histórias minhas ou dos outros. Seja sobre o que vai cá dentro, ou o que se passa fora de mim, facilmente escrevo qualquer coisa sobre qualquer coisa.
Acontece que muito do que se escreve (e acho que é comum a todos) são experiências pessoais, sentimentos interiores, pensamentos que nos perpassam o espírito sobre situações da nossa própria existência. Pessoalmente, sempre escrevi muito acerca de matérias passionais, tudo o que incomoda uma AlmArdente. Os amores, as relações com os outros, o que se quer da vida...
Obviamente, pensamentos e sentimentos desta natureza ocorrem com maior frequência em alturas em que estamos incomodados. Amores não correspondidos, dúvidas existenciais, todos os porquês desta vida...
E se não estivermos numa fase contemplativa? Se não estivermos em baixo, nem soturnos, deixamos de ter inspiração? Será a felicidade contrária aos pensamentos profundos? Ou seremos levados por uma onda de lamechice, de cada vez que nos sentimos infelizes, que nos serve de musa inspiradora?
Eu quero acreditar que a capacidade de sentir e pensar as coisas está cá sempre. Não quero deixar nunca de escrever. Mas constato, SuDu, como falámos nisso, que os temas mudam. São fases.
Afinal, todo o mundo é composto de mudança.