AlmArdente

De tudo se fala do que possa habitar uma qualquer alma humana. Os amores e desamores, as artes e os vícios, os prazeres e as dores. Intensas banalidades, para miúdos e graúdos.

domingo, abril 27, 2008

PORTISHEAD

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Marcaram aquele Verão quentíssimo de '98, quando deram o monumental concerto na Zambujeira do Mar. Estive lá. Recordar aquela noite, aquela atmosfera insane, causa arrepios a todos os que assistiram à actuação dos Portishead no Sudoeste. Uma multidão de gente sincopada, balançando naquela quietude estrelada no mais desconfortável silêncio que já se ouviu, imagens psicadélicas acompanhando as melodias, aquela entrada fenomenal viajando de carro pelo ecrã até à localidade de Portishead, perto de Bristol... Que alucinação! Aquela noite fica nos anaes da história da música, pela miríade de sensações causadas a tão vasta plateia. Não é normal. Não é usual. Foi um fenómeno inexplicável que ainda hoje, dez anos depois, ninguém esquece e todos tentam descrever. Mas falham as palavras e tudo o que fica são memórias sensoriais que fazem estremecer as almas ardentes. Não pude assistir ao concerto, dez anos depois, na apresentação do terceiro albúm. Revolvi-me e martirizei-me, lamentei esta falha como uma autêntica desgraça. Graças ao Youtube já vi partes filmadas no Porto e em Lisboa, para ficar com um cheirinho do que foi. E graças à pirataria cibernáutica, cá vou ouvindo as novas canções ainda antes de estarem nas lojas. A internet é um mundo! (já o tinha dito) Mas fica uma certeza: o terceiro disco há-de ser comprado, para fazer companhia aos anteriores dois, de vinyl, que tocam cá em casa.

segunda-feira, abril 07, 2008

A música é ... tudo.
A música é emoção vívida e eloquente. É vibrante, envolvente. Desperta paixões, euforias, estados de alma adormecidos ou por adormecer, tudo, tudo. Toca fundo, vai às entranhas revolver os sentimentos rítmicos que cada um de nós tem debaixo da pele - seja em estilo fado ou num pesado hard rock. Não interessa o género, interessa que seja genuíno. Interessa que a música que se ouve, seja pura na sua essência. Para isso interessa e muito quem a executa. Quem toca e canta, quem dá o corpo ao manifesto.
A música não pode ser maquinal, isenta de sentimento, ausente de significado.
Tocar um instrumento, cantar, actuar em público ou gravar um disco, tudo isso tem de ser de corpo e alma, tem de haver entrega, abnegação, despojamento.
Tenho saudades dos palcos em que deixava tudo em nome duma actuação verdadeira. Tal como tenho saudades dos concertos em que se assiste a uma rendição completa do artista ao seu público. E tudo isso se me assomou agora, ao ver uma mini-actuação da Cat Power na televisão. Que espectáculo!
Não percam isto: Cat Power no Letterman


domingo, abril 06, 2008

Às vezes sabe bem esta modorra. Ficar assim em câmara lenta enquanto a luz de fora se apaga lentamente. Ver a chuva caír, ouvir o vento assobiar na ramagem e não ter o que fazer: simplesmente, estar.
Pasmar o dia todo num ritmo lume brando, deixando os pensamentos vaguear entre o real e tudo o resto - tudo o resto costuma ser mais apetecível do que o mundo real.
E assim passam as horas ociosas num dia cinzento.
Assim passam os dias cinzentos em ermos ociosos.
Assim vai a vida neste cantinho de mundo, onde todos os dias a vida passa devagar...
Isto sabe tão bem!

sábado, abril 05, 2008














"O" conforto !

Gosto de estar bem com a vida. Que o mesmo é dizer: gosto de estar bem comigo e com os outros.
Ora a vida dá muitas voltas, é sabido. Acontecem coisas boas e más, umas vezes controladas por nós, outras nem por isso. E temos de viver com tudo, o que gostamos e o que abominamos. Temos de encontrar um equilíbrio (já dizia o Mister Miyagi ao Daniel san). E o equilíbrio passa por conviver com muitos fantasmas, muitos buracos negros, muita coisa desagradável. Com o tempo aprendemos a ser tolerantes, aprendemos a aceitar muito do que nos fez sofrer. Aprendemos a ser humildes e admitir que errámos. E aos poucos vamos fechando capítulos, estando bem com a vida.
Gosto de continuar a caminhada sem pedras no sapato. Porque as pedrinhas, por mais pequenas que sejam, incomodam. E é fácil reconhecer quem tem pedras no sapato. Muitas vezes é quem mais espalha aos quatro ventos que está bem com a vida - já diz o meu amigo espanhol que essa ânsia de anunciar ao mundo a felicidade suprema, não deixa dúvida.
Pois é, gosto de estar bem com a vida. E não tenho problemas em aceitar que não sou o ser mais feliz do planeta, não tenho a melhor vida nem estou envolvido nos mais aliciantes projectos (a minha vida prima por não ter projectos e isso agrada-me).
Enfim, estou bem com a vida. Comigo e com os outros.
Claro que de vez em quando é preciso descalçar os sapatos e sacudir as pedrinhas...
Não me dou com despedidas.
Sejam minhas ou dos outros, há sempre um quê de trágico e comovente nas despedidas, que me toca a alma de forma românticamente piegas.
Fui ver o EXPIAÇÃO pela segunda vez no cinema, e pela segunda vez me comovi na mesma cena da despedida dos amantes impossíveis. Talvez por eu mesmo ter passado por várias despedidas ao longo da vida, talvez por a carga emocional da cena (ajudada pela banda sonora e pelo jeitinho especial da Keira Knightley) estar na minha frequência piegas, o certo é que a coisa me tocou.
Não obstante, são dos momentos mais intensos que vivo. Fazem-me sentir vivo!
Ironias...